Somos um casal de jovens e começamos nossa busca no mercado
imobiliário, imaginando que não teríamos grandes dificuldades em encontrar um
apartamento confortável, sem nenhum luxo, obviamente, mas ainda assim
confortável e localização com infraestrutura básica e fácil acesso às
principais vias da cidade de São Paulo. Nossa renda é igual ou um pouco acima
da média dos jovens paulistas da nossa faixa etária, entre 24 e 30 anos que
estão no seu primeiro ou segundo emprego.
Como a grande maioria das pessoas, iniciamos a busca de
imóveis pela internet. Selecionamos alguns bairros que atendiam às nossas
necessidades e apartamentos de 3 dormitórios e 2 vagas. Acreditamos que esse
perfil de imóvel atenderá as nossas necessidades no longo prazo e as 2 vagas
são necessárias em virtude de termos dois carros para nossa locomoção para
trabalho.
Gostaríamos de não utilizar um financiamento , mas diante das
informações que tínhamos e situação dos preços, admitimos que isso fosse algo
aceitável. Partimos para as visitas e, de fato, TODOS os apartamentos exigiam,
no mínimo, um empréstimo imobiliário de R$ 200 mil, considerando que temos uma
reserva de R$ 230 mil. Esse valor seria APENAS para compra do imóvel, sem
considerar reformas e mobília, que estimamos custar no mínimo R$ 40 mil.
Nosso choque de realidade começou nas planilhas e terminou
nas visitas aos imóveis, quando constatamos
nossa preocupação...Não somos ricos! Refletimos que além da dívida do
financiamento, comprometendo 30% da nossa renda, ainda não teríamos como
reformar e mobiliar o imóvel e teríamos que nos privar quase totalmente de
cursos, gastos com saúde (academia, tratamentos médicos, odontológicos, etc),
viagens, diminuindo bastante a nossa qualidade de vida atual, além do risco de
ficarmos inadimplentes caso um dos dois ficasse desempregado.
Na nossa análise, identificamos quatro opções:
(1)
comprar um apartamento em bairros mais distantes
da principais vias de acesso e dos principais centro comerciais, com menos
infraestrutura e com preços mais
acessíveis;
(2)
entrar no financiamento;
(3)
adiar a compra com a expectativa de juntar mais
dinheiro;
(4)
partir para o aluguel.
Percebemos que a opção 1 para
adquirir no curto prazo seja a mais viável, no entanto deveríamos compreender
muito bem o que ocorre com as três outras opções.
A segunda opção foi muito
discutida entre nós, mas vimos que os juros estão muitos altos, entre 7,5% e
10% ao ano. Atualmente, a taxa Selic passa por um ciclo de elevação, por conta
do aumento da inflação, o que deve fazer com que os juros aumentem ainda mais. Para
aceitarmos esse financiamento teríamos que adquirir um prazo de 30 anos para
quitar o imóvel o que nos parece um absurdo, uma vez que passaríamos metade de
nossas vidas pagando o imóvel. Obviamente consideramos a oportunidade de
amortizar a dívida, mas, mesmo assim, o custo de oportunidade do financiamento
será alto para nós.
A terceira pareceu razoável no
primeiro momento, considerando que, perante ao mercado, deveríamos ser mais
ricos.No entanto, a nossa renda aumenta,
em média, entre 5% a 8% ao ano, acompanhando a inflação, enquanto que os
imóveis valorizam-se mais de 10% ao ano, ou seja, fazendo um conta básica,
se hoje o apartamento que queremos custa
R$ 500 mil, em 12 meses, ele custará R$ 550 mil, em média. Podemos juntar R$
100 mil nesse período, mas como houve aumento de US$ 50 mil no valor do
apartamento, os nossos R$ 100 mil, viram apenas R$ 50 mil no poder de compra do
imóvel. Nosso esforço de um ano é reduzido pela metade por conta da supervalorização
do mercado.
A quarta opção, o aluguel, não nos parece atrativa, pois o
valor do aluguel do imóvel que desejamos é praticamente igual à parcela do
financiamento que estávamos imaginando (R$ 2000/mês). Vimos depoimentos de
pessoas em outros blogs que estão vivendo de aluguel e querem comprar um
imóvel, no entanto, essa situação é bastante complicada, uma vez que elas já se
acostumaram a viver em um apartamento que atende plenamente às suas
necessidades e se forem para o imóvel próprio precisarão optar por um lugar
menor, localização não tão favorável, dentre outros fatores para conseguir
pagar o financiamento em uma mensalidade similar ao aluguel atual. Além disso, existe
a ilusão de que pagando aluguel é possível economizar dinheiro para dar uma
entrada maior no imóvel, no entanto, isso vai depender muito da gestão
financeira de cada família e dos imprevistos. Também é importante considerar
que pagando o aluguel, provavelmente, você precisará se privar de algumas coisas,
assim como no financiamento.
Outro ponto em relação ao aluguel, é que muitas pessoas
acreditam que seja mais flexível do que comprar um imóvel, no entanto, o
aluguel possui um contrato com prazo, que se não for cumprido, implica em
multas e o proprietário pode querer o imóvel de volta.
A pergunta que ficou... Isso é razoável? Precisamos ser
RICOS para viver confortavelmente ou o mercado está fora da realidade, cobrando
preços injustos?
Nós não queremos pagar um preço abaixo do que realmente vale
o imóvel, mas também não estamos dispostos a desmerecer o dinheiro que nos
esforçamos tanto para poupar. Queremos apenas ter equilíbrio entre o custo do
apartamento e a nossa renda, ou seja, pagar um preço justo.
Nossa percepção é que os preços estão surreais, é
praticamente uma piada e nós somos todos palhaços no mercado “imobhilário”,
caindo em muitas notícias enviesadas dos agentes interessados em nos pressionar
a comprar imóveis a preços que nos “estrangulam”. Entendemos que esse mercado é
influenciado pelos seguintes agentes: construtoras, investidores, proprietários
de imóveis, pessoas interessadas em comprar imóveis e governo/bancos. No
próximo post do blog iremos apresentar a nossa percepção de como esses agentes
atuam para inflar os preços do mercado e como há possíveis indícios de uma bolha
e mostraremos também nossa experiência ao visitar os apartamentos.
Não estamos aqui expondo nossa opinião para desmotivar as
pessoas que querem comprar imóveis (porque nós também queremos), o que
gostaríamos é de compartilhar nossa experiência e entender como outras pessoas,
jovens ou não, que também estejam planejando a compra de um imóvel estão
lidando com essa situação.
Por enquanto, estamos considerando a primeira opção, imóveis
em regiões mais afastadas, mas ainda assim, como dissemos anteriormente, os
preços estão elevados, muito acima do que anos anteriores e próximos ao valor
do que pretendemos pagar à vista, nos deixando sem reservas para emergências e
para mobiliar o apartamento. Continuaremos pesquisando e aguardando uma boa
oportunidade no mercado “imobhilário” que, para nós, não é tão engraçado assim.
Por favor, envie seu depoimento ou história por e-mail que compartilharemos
aqui no blog. Assim, poderemos entender a realidade das pessoas que realmente
querem comprar o tão sonhado imóvel.
Nenhum comentário:
Postar um comentário